quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Minhas lembranças do Marcus Francisco

Sergio, fiquei de lhe enviar alguma coisa, de minhas lembranças, sobre o Marcus Francisco. Aí vai: "Conheci o Marcus Francisco no início da década de 1970, no Rio de Janeiro, quando eu vivia, entre o Rio e São Paulo, fugida da repressão. O encontro, no fim da tarde, foi em uma pequena sala, meio escura, em minúsculo apartamento. Ele estava com meu irmão Sergio Pinheiro e um outro pintor, que não me lembro. Talvez o Potinho, não sei. Nossos mundos, embora com interesses distintos, a política e a pintura, não eram muito diferentes. Eu envolvida com mil histórias da repressão, mas cheia de idéias intelectuais. Eles, não sei direito o que faziam em grupo no Rio, tão pouco se preocupavam em explicar, dispostos a retratar em quadros e em cores o que viam e sentiam. Combinávamos com aquela época efervescente. Enquanto eu procurava me manter no nível racional, eles viajavam em todas. Viviam um processo interior, eu exterior. A mente deles era a mil. Engatei uma conversa com Marcus Francisco sobre uma idéia que eu tinha: escrever a história do Brasil em quadrinhos. Estava dando aula em uma escola israelita, no Bom Retiro, em São Paulo, e lia muito Caio Prado Júnior para preparar minhas aulas. Adorava contar a história do Brasil colonial para crianças. O Marcus Francisco prestou muita atenção no meu relato e achou muito legal a idéia de uma história real contada em quadrinhos. Recordo que batemos longo papo sobre esse meu plano, que nunca realizei nem movi nenhuma ação nesse sentido. Naquele tempo, tínhamos idéias sobrando! Nunca esqueci aquela conversa e guardei na lembrança a imagem atenta, inteligente e vivaz do Marcos Francisco. Penso que na minha história em quadrinhos as pessoas seriam desenhadas como as pintadas por ele em seus quadros." Maria Francisca Pinheiro Coelho
Escritora